domingo, 27 de junho de 2010

Núcleo de Teatro estréia espetáculo para crianças




No dia 24, quinta-feira, o Núcleo de Teatro fez pré-estréia do espetáculo “...e o gato não comeu!!!!” no SESI de Pelotas. Nessa ocasião foi realizada uma demonstração da rotina de trabalho físico adotada no Núcleo. Estavam presentes alunos de cursos técnicos da unidade do SESI-Pelotas (entre 11 e 17 anos).

Na sexta-feira, 25, o Núcleo se apresentou na cidade de Arroio dos Ratos, na I Semana Acadêmica do Pólo Presencial UAB - Arroio dos Ratos. A peça “...e o gato não comeu!!!! foi apresentada para alunos do ensino à distância da UFPel e, após a apresentação da peça, integrantes do Núcleo desenvolveram uma oficina de Contação de Histórias.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pra que serve?

Silêncio e olhares de fuga, aqueles de alunos que ficam se escondendo do professor para não serem chamados à resposta, foi o que seguiram a pergunta que não quer calar...

É engraçado, essa rotina de trabalho intensa; a busca pela plasticidade corporal, o descobrimento de ações físicas, os textos para escolher e decorar, as tragédias para ler, a prova para estudar, o fichamento para fazer, os projetos paralelos, os... , as..., e... seu corpo dói, sua cabeça está cansada, mas você está feliz, afinal, está fazendo o que sempre quis. A dor e a exaustão trazem uma sensação boa de dever cumprido, mas aí vem a pergunta, o silêncio e a dúvida.

Certa vez, depois de um desabafo cansado, um amigo me acalantou dizendo: a vida é assim, você tem que trabalhar, tem que acordar cedo, ser bom no que faz, ganhar dinheiro, poder ter um plano de saúde e poder, também, pagar um para os filhos que você pode vir a ter, se você ganha mesada, sua mãe não vai durar para sempre, e nem é isso que você quer, ou é? Então se acostume com a correria, uma hora não dói mais. De fato, nem dói mais, mas, tudo isso pra que?

O médico cuida da sua saúde, o engenheiro constrói o apartamento que você mora, o advogado tira você da cadeia, até o político, se não for corrupto, cuidará do seu bem-estar, e o ator? Afinal, Para que serve o teatro?

Ingênua e genuinamente sempre quis mudar o mundo, fazer um mundo melhor, mais justo, com pessoas mais justas, mais sensíveis, mais felizes. O teatro seria o veículo ideal para a disseminação desses ideais, o que seria mais perfeito do que reunir um grupo de pessoas com pensamentos pares e mudar o mundo através da arte? Cutucar a sociedade, despertar as pessoas que vivem suas vidas como robôs, no automático, não olham para o lado, não fazem amor, não são felizes e tentam “comprar” a sua felicidade.

Foi então, que numa discussão a cerca da necessidade do teatro, meu orientador disse que o teatro não mudava nada, justificando propondo um reposicionamento do meu olhar, perguntou o que acontecia quando eu visitava uma galeria de arte, se ao ver um quadro aquilo mudava minha vida, se depois de ver um filme eu não apenas ficasse tocada, mas de fato passasse agir diferente... não deve ter pingado em ninguém pois fiquei bem murchinha depois desse balde de água fria que me jogaram por cima. Murcha, mas não resignada, é exatamente a realidade que não nos satisfaz que queremos e devemos mudar.

Sim, tive que concordar; um quadro, um filme, uma peça não muda minha vida, mas então como explicar que filha de mãe médica, pai médico, padrasto médico, irmãs médicas, dindo médico, sem nenhum estímulo ou contato com arte além de fraquíssimas aulas de educação artística no ensino fundamental, que mais são um momento de recreação pra “encher lingüiça” no currículo escolar, sem nenhuma pré-disposição a mudar ou ser mudada, constrói uma aptidão tão grande por teatro e arte? Freud explica? Prefiro acreditar que não uma, mas duas ou três peças, quadros, filmes, músicas e principalmente pessoas podem sim, mudar uma vida.

A pergunta que não quer calar não encontra agora nem tão cedo encontrará uma resposta. Por enquanto sigo com a minha visão romântica de teatro, exercitando meu corpo e minha mente para mudar, sim, a sua vida, como um vírus que está só a espera da sua resistência baixar para tomar conta de todo o seu corpo. Quer se contaminar?

*dedico esse post a duas professoras que de repente nem tem idéia de quanto foram importantes na construção da minha personalidade, Tânia (física) e Marise (matemática).


Texto de Martha Grill

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Fogo!


Foto - Cieslak


Faz tempo que não escrevo. Mas estava esperando o meu dia de atualizar o blog. Reformulamos no Núcleo, na sexta passada, o treino. Que ficou mais claro. O grupo ainda esta se adaptando ao treino, que é feito por oito pessoas numa sala não muito grande. O treinamento agora é composto por uma hora, mais ou menos, de alongamento e aquecimento. E mais uma hora de dança dos ventos – fazendo o giro no final, em ritmo de dança dos ventos.
Ainda percebo todas as minhas travas, e meus avanços nesses dois anos treinando. Mas não quero falar sobre isso agora...

...

Adoro todas as pessoas que demonstraram amor a vida e a arte, através de palavras, gestos, traços, notas, beijos, abraços, gritos, sangue (‘Até a última gota de sangue negro!’, falava Artaud com Van Gogh), tapas... Todas as formas e não formas de extrair a essência da vida, ou do espírito humano, seja como você queira.
Grotowski fala do sacrifício do ator em cena. Ator que se sacrifica. Que mostra a ferida aberta, o pilar de sustentação que segura todo o seu poder de existência, que no fundo guarda os seus medos, suas mentiras, suas máscaras mais sujas, e as mais limpas. Leves. Soltas.
Com isso, os espectadores o queimar.

(E o espaço cênico agora é uma fogueira. Os atores têm os corpos flamejantes. Toda a sala esta escura, e apenas lá no meio, grandes chamas vermelhas começam a queimar. Transmitem calor, e a brasa é forte! E linda! Todos que presenciam o momento estão iluminados. Não é um lugar sagrado, não tem religião ali, não tem santos, nem nada. Mas acontece alguma coisa. Algo que não tem palavras. Perto do divino? Acima do Céu? Catarse? Êxtase? Teatro! Atores e espectadores queimam! O fogo se faz! Se alastra, e não morre. Não vira cinza. Nunca!)

O que é a entrega total?
Pergunto-me já sabendo da resposta, intelectualmente falando.
Por isso tem que ser corporalmente.
Os meus pilares de sustentação se mostraram nessas duas últimas semanas.
Foi uma crise. É complicado pegar sua fraqueza, estender ela a um desconhecido, e deixar que este espete com uma faca aquilo que dói só pelo fato de já existir.

Você teria coragem?
Entrega total! Puro sacrifício.

Toca Tchaikovsky agora, enquanto escrevo esse pequeno depoimento.
Espero que minhas palavras tenham feito surgir alguma coisa em vocês, pois Tchaikovsky está em erupção!
Não fique tranquilo. Queime!


Texto de Elias Pintanel