sexta-feira, 18 de junho de 2010

Fogo!


Foto - Cieslak


Faz tempo que não escrevo. Mas estava esperando o meu dia de atualizar o blog. Reformulamos no Núcleo, na sexta passada, o treino. Que ficou mais claro. O grupo ainda esta se adaptando ao treino, que é feito por oito pessoas numa sala não muito grande. O treinamento agora é composto por uma hora, mais ou menos, de alongamento e aquecimento. E mais uma hora de dança dos ventos – fazendo o giro no final, em ritmo de dança dos ventos.
Ainda percebo todas as minhas travas, e meus avanços nesses dois anos treinando. Mas não quero falar sobre isso agora...

...

Adoro todas as pessoas que demonstraram amor a vida e a arte, através de palavras, gestos, traços, notas, beijos, abraços, gritos, sangue (‘Até a última gota de sangue negro!’, falava Artaud com Van Gogh), tapas... Todas as formas e não formas de extrair a essência da vida, ou do espírito humano, seja como você queira.
Grotowski fala do sacrifício do ator em cena. Ator que se sacrifica. Que mostra a ferida aberta, o pilar de sustentação que segura todo o seu poder de existência, que no fundo guarda os seus medos, suas mentiras, suas máscaras mais sujas, e as mais limpas. Leves. Soltas.
Com isso, os espectadores o queimar.

(E o espaço cênico agora é uma fogueira. Os atores têm os corpos flamejantes. Toda a sala esta escura, e apenas lá no meio, grandes chamas vermelhas começam a queimar. Transmitem calor, e a brasa é forte! E linda! Todos que presenciam o momento estão iluminados. Não é um lugar sagrado, não tem religião ali, não tem santos, nem nada. Mas acontece alguma coisa. Algo que não tem palavras. Perto do divino? Acima do Céu? Catarse? Êxtase? Teatro! Atores e espectadores queimam! O fogo se faz! Se alastra, e não morre. Não vira cinza. Nunca!)

O que é a entrega total?
Pergunto-me já sabendo da resposta, intelectualmente falando.
Por isso tem que ser corporalmente.
Os meus pilares de sustentação se mostraram nessas duas últimas semanas.
Foi uma crise. É complicado pegar sua fraqueza, estender ela a um desconhecido, e deixar que este espete com uma faca aquilo que dói só pelo fato de já existir.

Você teria coragem?
Entrega total! Puro sacrifício.

Toca Tchaikovsky agora, enquanto escrevo esse pequeno depoimento.
Espero que minhas palavras tenham feito surgir alguma coisa em vocês, pois Tchaikovsky está em erupção!
Não fique tranquilo. Queime!


Texto de Elias Pintanel

Um comentário:

dialogoteatral disse...

A pergunta é fundamental: você pode se desnudar diante de mim? você pode fazer aquilo que é preciso fazer diante de um grupo de pessoas? E diante de você mesmo? Você é capaz de se apresentar? De se autorevelar? De se autopenetrar?
É sempre uma dúvida para quem está começando. Para o Elias não há dúvida, há futuro.