segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Reflexão final: teatro é encontro


Por Elias Pintanel

Eles continuaram a me acompanhar: Stanislavski e Grotowski. Houve uma compreensão melhor de alguns aspectos das duas poéticas, graças às montagens feitas nesse ano e com as análises feitas em cima delas e de outras que vimos. O diálogo que se estabeleceu esse ano entre os membros do Núcleo Fez muita diferença para a absorção destas poéticas. Alguns livros que li esse ano me ajudaram também, como A Ostra e a Pérola da Adriana de Mariz, Diálogo sobre Encenação, Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski, entre outros livros, enfim, os comentários e as ligações feitas sobre eles... As leituras individuais que fiz junto as do Núcleo foram importantes nesse ano para realizar e entender melhor as montagens que fizemos e o nosso próprio trabalho no Núcleo.

Fizemos “...E o gato não comeu!!!!!”, “A história é uma história”, “Comédia de Improviso”, “La cantante porque no?”. Mesmo com as dúvidas que sempre estão vivas e corroendo, sinto que neste ano a montagem de um “personagem”, de uma partitura de ações, o envolvimento em ensaios e estudos, aconteceu de uma compreensão mais clara que o ano passado. Como os dispositivos para a criação do “personagem”, composição das cenas, marcas, uma compreensão do urdimento (algo que eu não sabia o que era, nunca tinha trabalhado num teatro).

Ter trabalhado no Teatro do COP esse ano me fez ter um outro contato com o teatro. O Palco. A Caixa Preta. O Urdimento. O Altar. Pela primeira vez eu apresentei uma peça num teatro à italiana. Ainda gosto mais do “não-palco”. Do espaço feito pela peça, pelo jogo, como em CRIAS, como na COTADA e na RECOTADA, ou como nas próprias apresentações do “gato” nas escolas.

O trabalho feito nas escolas foi muito interessante, por muitos motivos: o jogo sendo o foco principal, o trabalho do ator em relação a apresentação, se adequar ao espaço de apresentação, ao papel, a resposta imediata do público. Deixo aqui uma citação de Grotowski que fala que “Teatro é encontro”, ele diz isso no livro Em Busca de um Teatro Pobre, sentimos isso na pele. Era preciso estar inteiro em cena como Grotowski diz, para o jogo e o envolvimento acontecer, entre o ator e o público.

Mas foi muito bom, sentir a energia sendo trocada nas apresentações. O maldito Artaud estava certo! Nenhum gesto pode ser repetido! Em algumas apresentações A Peste entrava em rigor.

Uma coisa que gostei muito foi a eliminação de certos acessórios, figurinos e maquiagem. Está certo que o palco nu, a peça quase sem elementos cansa, mas com o “gato” não cansou. O jogo ficou gostoso. E colocar o corpo do ator em evidência, o seu trabalho, foi o mais importante. Outro momento para lembrar de Grotowski, que fala que o teatro pode existir sem figurino, sem maquiagem, sem luz, sem música, sem cenário, mas com o atr e o público. Foi bom poder experimentar e brincar com isso.

Tenho que falar sobre mim no trabalho. Mas não posso falar de mim sem falar de quem trabalhou comigo. Foi importante esse ano, uma nova forma de se ver o trabalho em grupo e de se colocar nele. A saída e entrada de pessoas no Núcleo teve o seu lado bom e que constitui os nossos caminhos, o que é óbvio, mas é preciso dizer isso. Sinto falta de um comprometimento do grupo por inteiro. Às vezes levamos, durante o ano, algumas pessoas de arrasto, era o que parecia, mas que me fez entender outra coisa também: a não firmeza e insegurança de dizer EU FAÇO TEATRO, mas sim, um ar de exibicionismo de pura idiotice de dizer isso sem realmente assumir o trabalho, e falar EU FAÇO TEATRO querendo ser a estátua douradinha do OSCAR sempre! Não tem problema em tentar conseguir... Mas vocês me entendem.

No começo do próximo ano vou focar o trabalho em mim. Explorar mais fundo o que Grotowski e Antunes Filho falam do trabalho do ator e seu envolvimento. Eu sei que vai ser um desafio, que vai ser difícil, mas se eu não fizer isso, eu continuarei com dúvidas, com um certo vazio, sem me por alguns limites, em risco, numa tensão, no silêncio, na solidão em público, vulnerável, exposto, despojado, em sacrifício...

Morre 2010, com muitas flores e sorrisos.

Nasce 2011, com todas as perguntas e incertezas.

Que assim seja!

EVOÉ!

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